O perigo da “argentinização” da transição polí­tica brasileira: uma visão sobre a Argentina no Brasil de 1984 e 1985

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Caroline Silveira Bauer

Resumen

Um dos marcos do processo de transição polí­tico brasileiro, no que diz respeito í  elaboração de polí­ticas de memória, foi a promulgação da Lei de Anistia, em agosto de 1979. A partir daquele momento, os debates sobre a responsabilização criminal dos agentes da repressão da ditadura civil-militar, bem como as iniciativas para elucidar os crimes cometidos pelo Estado, sofreriam uma interdição jurí­dica e moral; o esquecimento seria indispensável para a consecução da construção da democracia. No entanto, simultaneamente a esse processo de olvido deliberado por parte dos governos transicionais brasileiros, a primeira administração civil após a ditadura na vizinha Argentina promovia os direitos í  memória, í  verdade e í  justiça, a partir de 1983. Este artigo tem como objetivo analisar como as medidas implementadas por Raúl Alfonsí­n – mais especificamente, a criação da Comisión Nacional sobre la Desaparición de Personas(CONADEP), a autorização da realização do Juicio a las Juntas e a publicação do relatório Nunca Más –, repercutiram no serviço de informações da ditadura civil-militar brasileira e na imprensa nacional. A partir da recuperação das manifestações de diversos setores do governo e da sociedade civil, procura-se recuperar o temor sobre um possí­vel “aprendizado por contágio”, que levaria a democracia brasileira a sofrer uma “argentinização” quanto ao passado recente.

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Cómo citar
Silveira Bauer, C. (2016). O perigo da “argentinização” da transição polí­tica brasileira: uma visão sobre a Argentina no Brasil de 1984 e 1985. Aletheia, 7(13), 1–22. Recuperado a partir de https://www.aletheia.fahce.unlp.edu.ar/article/view/ATHv7n13a10
Sección
Dossier. Historia, Memoria y Justicia a 40 años del golpe de Estado en Argentina
Biografía del autor/a

Caroline Silveira Bauer, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Caroline Silveira Bauer é doutora em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pela Universitat de Barcelona. Professora do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pelotas. É pesquisadora do CNPq e integra o grupo de pesquisa Memoria y sociedad – las políticas de reparación y memoria y los procesos sociales en la construcción de la memoria pública: conflicto, representación y gestión – HAR 2011-23490. Autora de diversos livros e artigos sobre a ditadura civil-militar brasileira e temáticas correlatas.

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